quinta-feira, 31 de maio de 2007

Bjork de Volta!

Volta repõe a música de Björk no patamar dos seus melhores álbuns – Debut (1993), Post (1995) e Homogenic (1997) – embora num ponto distinto do mapa sonoro.
O single «Earth Intruders» dá o tom da nova abordagem: pop subtropical com ritmo acidentado a lembrar os Bow Wow Wow ou o turismo plástico de Adam and the Ants. A sua base é preciosa, pois revela um dos escassos locais do mainstream actual onde é possível a convergência no tempo e no espaço de gente esteticamente tão afastada quanto Timbaland, os Konono No.1 e Chris Corsano. Multiculturalismo à parte, o ingrediente central de Volta é o papel de cimento-cola conceptual dos metais (ou equivalente digital), que permite que várias faixas passem de experiências erráticas com sons para canções aladas. Ouça-se a desorientação provocada pelo tom fúnebre mas ascensional desses metais e do dueto de Björk consigo própria em «Wanderlust», aos encontrões com uma batida apopléctica. Ouça-se «The Dull Flame of Desire», com ajuda vocal de Antony Hegarty (que vai razoável, mas não tão bem como se imagina que Bryan Ferry ou David Sylvian, que é ao que ele soa aqui, iriam). Ouça-se, enfim, a forma como os metais fazem de «Vertebrae by Vertebrae» uma colisão das estruturas ansiosas de Bernard Herrmann com uma amálgama de suspiros rítmicos digitais baralhados; ou como a faixa seguinte, «Pneumonia», retira o pretérito e precário tapete rítmico e se fica a baloiçar a uns quatro metros do solo enquanto Björk se entrança sobriamente com sopros nublados.Também se dança com Volta . O ataque físico de «Innocence», cheio de golpes desenterrados de videojogos, é uma das realizações de Timbaland mais desvairadas de sempre, e Mark Bell regressa para o imponente e sufocante (elogio) «Declare Independence». Ambos dão o toque certo de semi-populismo ao bem-vindo retorno de Björk, depois de uma década de discos deambulatórios e intermináveis reciclagens do seu catálogo que testaram as fronteiras da paciência.
(Fonte: Blitz)

Sem comentários: