
Já pela noite dentro entrou em palco uma das bandas mais aguardadas, os britânicos Placebo, para um concerto integrado na digressão de "Meds", o seu quinto álbum, editado no ano passado. Não surpreendeu por isso que as canções desse disco tenham dominado a maioria do alinhamento, desde singles como a faixa-título, "Infra Red" e "Song to Say Goodbye" até temas como "Drag" ou "One of a Kind". Embora servidos de forma competente, é difícil contornar o facto de que fazem parte do disco menos interessante do trio, o que pareceu reflectir-se num concerto de perfil amansado, longe do fulgor e frescura de outros tempos. Quando o grupo recuperou canções mais antigas, como "Every You Every Me" ou "Special K", o despertar do entusiasmo do público foi evidente, mas estes foram rasgos demasido escassos numa actuação acomodada e sem surpresas. O facto de ter sido curta - 50 minutos em vez da hora e meia prevista - também não ajudou, já que a banda retirou-se do palco quando a actuação começava a tornar-se mais dinâmica e interessante, e que assim soube a pouco.
Ligeiramente abaixo das expectativas ficaram também os Prodigy, que ainda assim apresentaram um concerto mais entusiasmante. Keith Flint e Maxim, os dois vocalistas, foram suficientemente explosivos, e o segundo incitou por várias vezes à agitação do público, saíndo inclusive do palco para junto deste. O problema foi que, quando os temas em destaque não eram os que os que os colocaram no estrelato há dez anos, o concerto não passou de pirotecnia algo datada, com novas composições techno-industriais que não conseguem repetir o efeito das do marcante "The Fat of the Land" (refira-se, contudo, que o som do palco também não era brilhante). Os três singles desse disco - "Breathe", "Firestater" e sobretudo "Smack My Bitch Up" - foram naturalmente alguns dos mais aplaudidos, despertando uma euforia dançante por milhares de espectadores. Na memória ficaram também "Voodoo People", "Their Law", "Poison" e o já velhinho, mas ainda irresistível, "Out of Space", que fechou um concerto meritório e convincente, mas longe de arrebatador.
A maior surpresa da noite não se registou, assim, no palco principal, mas no Axe Radio Soulwax, onde a banda que dá nome ao espaço se apresentou em formato nite vessions, ou seja, alicerçada nas versões remisturadas do disco "Any Minute Now". O grupo belga já tinha estado presente no Parque da Bela Vista há um ano, durante o Rock in Rio, onde deixou boa impressão. Desta vez, foi ainda mais eficaz na sua proposta dançável, oferendo uma hora de acelerada combinação instrumental de electro, techno e rock com pontuais vocalizações. As canções dos Soulwax integram aqueles casos em que as remisturas são mais estimulantes do que os originais, e a banda tirou proveito disso num concerto que destilou uma invejável dose de de energia cinética. Marcada por uma curiosa combinação de programações electrónicas com intrumentos reais - guitarra e bateria - tocados em palco, a actuação foi uma feliz amálgama do formato live act e DJ set, baseada numa imparável sequência de canções efusivas e com múltiplos crescendos de ritmo e intensidade. Da citação de referências logo ao início, em "Teachers", passando por "E-Talking", "Slowdance", "Krack", "I Love Techno" e "NY Excuse" ou por uma transfigurada "You Gonna Want Me", de Tiga, os Soulwax geraram um concerto contagiante, e mesmo o facto de ter decorrido já de madrugada não impediu que muitos espectadores tenham dançado incansavelmente.
Dançar foi ainda uma constante até altas horas - 6 da manhã - noutros espaços, nomeadamente no Barcardi Kubik, mesmo ao lado, onde as sessões de nomes como Tiefschwarz, M.A.N.D.Y, Erol Alkan e, por fim, dos 2 Many DJs (constituídos por dois elementos dos Soulwax) propuseram uma receita sonora assente em generosas doses de electro.
Se não faltaram atractivos no Creamfields, é igualmente verdade que nem todos estiveram disponíveis a todo o público, pelo menos sem que se perdesse algum tempo - em certos casos, algumas horas - para aceder aos mesmos. O caso mais flagrante terá sido o da Olá Love 2 Dance Giant Sphere, cujas enormes filas testaram a paciência de muitos, e o mesmo sucedeu em relação à La Isla ou ao Silent Club. Os escassos pontos de alimentação geraram problemas semelhantes, assim como os WCs, e houve também quem se tenha queixado do excessivo tempo de espera para a entrada no recinto do festival ou da inexistência de caixas do multibanco. Limitações a corrigir numa eventual próxima edição de um festival que, pelo menos a julgar pelo número de visitantes e da adesão a alguns dos espectáculos, pode considerar-se um caso de sucesso.
(Fonte: Paulo Sá, in www.sapo.pt)
Site Oficial: www.creamfields.sapo.pt
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