quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Bruxaria metafísica!

A anunciação de que algo de extremamente belo estava para vir foi premeditada em "Street Horrrsing".
2009 acaba (finalmente!) por desabrochar o belissímo "Tarot Sport», que consegue expandir as fronteiras fluidas da música da dupla de Bristol afirmando-se como um segundo disco que é um magnífico tratado de boas ideias.
Estou a falar claro, dos Fuck Buttons...quem mais poderiam ser!
Benjamin John Power e Andrew Hung atiram-nos camadas e camadas de espesso magma sonoro que obrigam os ouvidos a escutar aquilo que nunca tinham ousado e os sentidos a experimentar o que nem em sonhos julgavam ter existência possível.
É uma música que quase se pode tocar, tão física e exigente se torna a sua escuta.
Uma viagem arrepiante e triunfal num cosmos distante, apresentando um dinamismo intrínseco que não deve ser procurado à flor da pele, antes sim escavado com preserverança nas sucessivas capas sonoras que enclausuram esta música impetuosa, mas que ao mesmo tempo lhe conferem um horizonte quase infinito de leituras paralelas, exemplarmente distendidas no espectro disponível pelo mago Andy Weatherall, convocado pela dupla para dar expressão exterior à complexidade das composições que lhes habitam no interior.
E neste intrincado jogo de pulsões rímicas em movimento circular e figurantes sónicos de fugaz aparição, que complementam a narrativa futurista apresentada pela parafernália de teclados afirmados como personagem principal, desenha-se a cada instante um esboço arquitectural de linhas cruzadas, traçadas a régua, compasso e esquadro, que se distribuem numa tela inacabada que aguarda pelos momentos, sempre surgidos, de confluência atmosférica mas marcialidade letal.
Mais do que ler nos astros um futuro que há-de vir, faz uma clara proposta de descodificação e antecipação dos movimentos musicais vindouros, elevando o drone à condição de maná numa travessia psicadélica de celebração tribal de uma renovada ordem musical, assente na absoluta liberdade de movimentos e na perpetuação da unidade orgânica que o conceito de álbum há muito definiu como um todo afirmativo, coeso, coerente e pleno de sentido.







(Adaptação: Domínio dos Deuses)

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