
A dificuldade de "Become Secret" está na sua posição de não alinhada com as correntes musicais dominantes, devendo algum parentesco, quando muito, às nuvens cinzentas e distorcidas da weird-folk. À utilização dominante de artefactos acústicos, com o piano e o violaocelo a assumirem a condução das partituras, junta-se uma forma de construir canções que pouco tem de convencional e uma narrativa vocal que pouco deve ao que entendemos por canto.
Ao longo dos 29 minutos deste disco, que a cadeia de canções se encarrega de revelar muito curta para tão grande intensidade artística, a declamada voz de Liz Hysen surge quase ameaçadora e assombrada, entre sombras e contornos melódicos dramáticos, que insinuam a presença de silhuetas soturnas mas com um intrigante apelo e uma vontade inescapável de connosco estabelecer uma relação de intimidade, mesmo se a ausência quase total de elementos percussivos induza uma frieza aparente e um elemento disruptivo na lógica clássica da construção folk.
Nesta proposta dos Picastro pressente-se a novidade que Toronto tem sabido significar para a fluência musical dos últimos anos, e "Become Secret" encarrega-se de chamar a si o mérito de, numa articulação bizarra, adquirir em simultâneo uma estranha perplexidade e uma docilidade horrenda que, no final, produzem um conceito muito próprio de beleza fluida no qual apetece mesmo deixarmo-nos arrastar!
(in, Matéria Prima)
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