
Johnson, apurado apreciador da música criada por outros, assume que começou a compor porque, a certa altura, deu por si sem se sentir estimulado pela produção contemporânea, iniciando gravações com vista a preencher o fosso assim aberto na sua coleccção discográfica. E a verdade é que o tem sabido fazer com tal mestria e renovada novidade que nos é permitido reservar em avanço algum espaço vazio para que os seus próximos discos tenham lugar imediato na prateleira dos nossos discos favoritos.
Neste novo «Ovations» o sopro de novidade chega em grande medida pela alargada e inspirada colaboração no disco de dois músicos cuja história está intimamente ligada aos Dead Can Dance: o multi-instrumentista Brendan Perry, que usa inclusivé a sua própria voz como um dos elementos de maior revelação do seu talento; e o percussionista Peter Ulrich, que consigo carrega uma versatilidade notável na utilização dos ritmos, que para aqui aportam ambientes orientais e exóticos, mas também uma certa austeridade marcial que marca com rigor e precisão alguns dos temas que aqui ouvimos.
Estes dois colaboradores integram-se na perfeição nas paisagens escuras a que Glen Johnson e o restante quinteto nos foi habituando ao longo dos anos, ao mesmo tempo que uma certa solenidade glaciar invade cada uma das suas canções, tocadas por uma nostalgia romântica e por uma dolorosa beleza que lhes dão espessura filosófica e uma inevitável atracção.
«Ovations» é um disco em que os Piano Magic se reinventam a si próprios, ainda que de um modo quase silencioso, mantendo integrais os seus elementos de sedução e fazendo da sua música uma sucessão de elegias sonoras imersas em requintada poesia.
Uma autêntica pedra-preciosa, com todas as arestas finamente lapidadas e prontas a seduzir com os seus reflexos multiformes de colorações escuras!
(in, Matéria Prima)
(in, Matéria Prima)
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