Acabadinho de ser editado pela Warp, "Small Craft On A Milk Sea", mostra-nos o regresso de Brian Eno aos registos de originais e coloca-o directamente a prateleira dourada da Xangai...e mais um a constar na "tal prometida lista dos melhores de..." (na realidade, acho que nunca vou conseguir fazer uma lista dessas...falta-me ingenuidade e alguma preguiça musical, enfim!)
Os primeiros minutos do álbum plantam a ideia de que Eno está de regresso ao território ambiental que tão bem mapeou nos anos 70 e 80.
A languidez do piano, a guitarra dedilhada com todo o tempo do mundo, o fundo ambiental como atmosfera respirável, tudo indica uma direcção abruptamente anulada em “Flint March”, um acordar da letargia e, se quisermos elaborar uma fantasia, o momento em que o Homem se ergue e começa a ter de sobreviver.
Metáforas com a evolução parecem apropriadas pela própria estrutura do álbum, sonicamente organizado para uma subida a picos de intensidade e nova descida a um ritmo pausado perto do final, depois de extinta a necessidade de gastar explicitamente a energia contida pelos primeiros minutos do álbum.
A qualidade cinemática da sequência “Flint March”, “Horse” e “2 Forms Of Anger” evoca uma fuga desesperada que pouco a pouco, na série seguinte de temas, adquire algum discernimento: “Bone Jump”, “Dust Shuffle” e “Paleosonic” prolongam a base rítmica mas indiciam a descida para nova segurança com “Slow Ice, Old Moon”.
Ouvindo o álbum em repeat a partir desta faixa, colando posteriormente com as três iniciais, dir-se-ia ouvirmos dois discos diferentes.
Mas Eno escolheu unir duas sensibilidades praticamente opostas num mesmo todo.
“Bone Jump” encontra-se mais ou menos no centro, a segunda vez esta semana em que nos lembramos dos arranjos grandiosos de David Axelrod.
Mas se as texturas ambientais de Eno são quadros vivos, não devemos descurar os verdadeiros organismos (vivos) ricamente detalhados que são as seis faixas rítmicas, com eventual excepção do exercício bruto em “2 Forms Of Anger”.
(in, blog.flur.pt)
Mais um registo digno de vénias honrosas e que nos mostra um Brian Eno à altura de muitas modernices tecnológico-sonoras que por aí se diluem e entranham!
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