Não é apenas a origem geográfica improvável que faz da música dos Beat Milk Jugs um segredo bem guardado que vale a pena desvelar com atenção e cuidado.
Estes sons vindos da Letónia, mas já curtidos pelo urbanismo britânico, assentam no pulsar rítmico de alucinação hipnótica, adornados por teclados planantes e guitarras telescópicas que, por vezes, serpenteiam em espiral entre os sussurros e a languidez vocal que nos apresenta em bandeja de prata uma colecção de temas em que a depressão é dançável e o lamento é elevado à condição de projecção escultural.
"10 Years Of Hangovers" traduz a maturação de canções alimentadas por raízes entrançadas na negritude de Manchester e na alienação caleidoscópica da swinging london, mas filtrada pela clausura e circunspecção impostas pela dominação russa que durou 70 anos.
Ou seja, um disco em que os Beat Milk Jugs parecem transpirar liberdade, mas que a usam para lamber as feridas culturais profundas da sua nação, trazendo para a sua música um elemento estético herdado do sofrimento, mas que o parece querer suplantar através de uma admirável noção dos tempos, sentimentos e espaços que devem exalar de uma canção.
(in, Matéria Prima)
Sem comentários:
Enviar um comentário