Uma década depois da estreia, o alemão Rajko Muller confirma-se como eficaz depurador sonoro, apostando num regresso perspectivado às origens.Preenchida por temas, quase só, instrumentais, a investida "Well Spent Youth", agora editado pela Pampa e Symbiose, é composta por linguagens onde as insinuantes teias rítmicas, ao invés de conduzirem o ouvinte à pista de dança, remetem-no para um estado de leveza devido ao caloroso universo de espaços tridimensionais urdido.
Um entendimento perfeito do qual se pode obter uma sonoridade dançante, densa e evolutiva, com as linhas sintéticas do techno, os códigos do house mais tranquilo, os adornos do disco sound, a base minimal electrónica ou o embalo dub em simbiose perfeita, num resultado aparentemente simples, que esconde delicadamente toda a sublime e genial complexidade.
Aqui procuram-se bandas sonoras e outras experiências para electrificar de forma indecente momentos descomplexados ou outra qualquer ocasião onde a celebração da música seja importante.
A música que se procura é aquela que é descoberta através de um caminho indefinido, traçada ao sabor das circunstâncias, numa sequência de convulsões e remontagens, numa relação de absoluta sedução com balbúrdia.
Um caminhar aleatório e desconcertado pelos trilhos sinuosos do mundo das extravagâncias sonoras, fazendo paragens nos lugares mais resguardos do silêncio.
Johnny Cooks Dance é o alter-ego gira-disquista de João Alberto, constituindo-se como a sua faceta mais tresloucada, colorida e imprevisível, resultante do seu incessante vício em procurar novas sonoridades e outras motivações! Herdeiro “pós-moderno” de um espírito naturalmente híbrido e experimental, carrega o estandarte da premissa ”DJs are not rock stars.”, afirmando-se como uma personagem que vive da música e gosta de partilha-la, deixando os termos de mix-CDs, sets, bpms, fades, pitchs para os “Djs a sério”. Com uma criteriosa e cuidada selecção musical que privilegia uma certa espiritualidade em detrimento da funcionalidade exigida pela pista de dança, Johnny Cooks Dance começou a sua vida em festas privadas numa atmosfera construída por uma forte rede de amizades a ocuparem o centro das atenções e das intenções. Com uma tendência natural para a imagiologia e fã incondicional de catalogações, durante as suas actuações, o espaço sonoro transforma-se num lugar quase imaginado, preso à realidade por ideias isoladas, reinventando conceitos e misturando aquilo que não se deve misturar, acabando por redescobrir a própria música…pelo menos ele pensa que sim! Ao ignorar o livro de estilo dos DJs, Johnny Cooks Dance encena de forma simbólica um regresso ao estado primitivo da música, decompondo-a em peças elementares e devolvendo-a em conjugações altamente aleatórias e perigosas para quem o escuta! Pensa na música como um espaço num determinado lugar em detrimento dos géneros, onde a música comanda as suas próprias ligações, de forma orgânica fazendo com que no centro da pista ou do salão aquele disco certo suceda de forma mágica ao que parecia estar errado! Ele está enganado e o caminho pode não ser por aqui, disso ninguém duvida! Mas de uma coisa não o conseguem convencer: desistir de fazer aquilo que realmente gosta de fazer que é ouvir e partilhar boa música…ou não acreditasse ele que um dia ainda se levará a sério a lounge music!
Cabletoys
Com a permanente e desenfreada democratização das tecnologias de informação no nosso dia-a-dia, o estar e o lugar deixam de ter o peso e importância como elementos isolados. Estar aqui e agora não significa pensar ou actuar aqui…o ali e o depois deu lugar a uma nova rede de interacções globais, em que o mundo inteiro se encontra ligado à distância de um simples clique. E foi assim que nasceu o projecto Cabletoys! Um novo alter-ego “cósmico-minimalista” de João Alberto, que surge como uma necessidade pessoal de tentar esclarecer-se a ele próprio e a quem o queira ouvir do processo criativo e interpretativo do acto de fazer música…e de como chegar à mesma. Pondo aqui de parte todos os radicalismos que advêm da cultura consumista, Cabletoys recorre a diversos gadgets musicais, aliados a certos engenhos tecnológicos de carácter manipulativo…ou então só para decoração! Já muito se falou e foi escrito acerca deste tipo de abordagem musical, no entanto Cabletoys surge na cena nacional como um projecto inovador dada a matéria-prima em questão. Bizarrias de brincar em comunhão com a seriedade e robustez de sequências definidas…Buddha Machines em loops estonteantes e hipnóticos com vozes perdidas no espaço, mesas futuristas e pulsáteis das Zoundz aleatoriamente construindo ritmos e cadências misturam-se com os devaneios furiosos perdidos naquele espaço. Promete-se uma experiência sinfónica multi-sensorial num retrocesso do digital para o analógico ou mesmo essa mistura, procura-se dar um novo passo em frente para uma nova estrutura musical. Acima de tudo a música, o processo criativo, como se apresenta, os meios de propagação e no final a fruição!
Sem comentários:
Enviar um comentário