Não é fácil o disco de estreia dos canadianos Suuns, intitulado "Zeroes QC"!
Possivelmente porque ninguém está devidamente preparado para a fusão alucinada de uma esquizofrenia rímica e melódica com uma barreira sónica abrasiva, que por vezes parece criar uma muralha intransponível entre o quarteto de Montréal e todos quantos arriscam mergulhar na sua música.
Na música dos Suuns a estridência parece ter o mesmo valor que o silêncio e a cadência sincopada aparenta ser usada da mesma forma que a desordem formal.
Nela parece existir um desajuste entre os criadores a a realidade musical que os envolve, com o inevitável transporte desse desencontro para aqueles que os ouvem.
Como se, de repente, tudo aquilo que temos como absolutamente seguro se desfizesse em mil pedaços, diante do nosso olhar incrédulo e impotente, e do caos resultante apenas fossemos capazes de reconhecer alguns traços do passado correctamente estruturado.
E, neste cenário que, por ser desconhecido, chega a ser desconfortável, começamos a reaprender a ouvir música, a juntar referências, a estabelecer ligações e a perceber que os Suuns não têm nenhum compromisso com a linearidade nem com a facilidade de processos.
"Zeroes QC" parece estar assente numa estratégia de pára-arranca, em que a cada movimento, mesmo que em loop, parece corresponder um tempo e espaço diferente do anterior.
Por isso é um disco que nos confunde e desorienta num primeiro momento, até que a linha que une toda a sequência se comece a tornar mais evidente (sem nunca chegar a sê-lo, de facto) e a estranheza dê lugar a uma paixão desenfreada.
Daquelas que levantam desconfiança a quem nos está próximo mas que, disseminada pela força da nossa certeza, pode tornar-se num caso sério de epidemia entre as gentes de bom gosto.
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