
Mais ou menos Detroit, mais ou menos Chicago, mais ou menos electrónicas, todas estas linguagens se codificam em contextos específicos. No caso de Lindstrom, a linguagem-chave é o disco, revolução musical e de costumes que desde meados dos 90s tem vindo a ser reinventada por uma série de inteligentes produtores. Das orquestrações económicas dos Faze Action (que estão de volta) à vénia sentida às tonalidades Italo da dupla Metro Area, passando pela recente tendência de síntese de linguagens tão diversas como a dos cantautores da década de 70, dos ecos baleáricos de 80 e do rock espacial que se adivinha na estética particular de nomes como DJ Harvey, Rub n’ Tug ou Quiet Village, a linha condutora é o disco-sound. E, de certa forma, a obra de Lindstrom abraça todas estas sensibilidades, talvez pelo percurso particular que o conduziu até ao presente.
«Cresci com a pop que se tocava na rádio norueguesa entre 82 e 84. Música pop com muitos elementos pós-disco e algum hip-hop do início. Depois comecei a tocar piano clássico, nomeadamente a acompanhar coros na igreja. Depois da minha fase heavy- metal dediquei-me à fusão à la Dave Grusin e Lee Ritenour. E depois veio a minha paixão pelo country e pela folk de Hank Williams, Arlo Guthrie e Bob Dylan. Mas estes géneros não são os mais fáceis de criar quando se tem apenas um sampler», explica. «Por isso decidi tentar a electrónica».
No caso das presentes mutações do disco, uma palavra parece descrever na perfeição a sonoridade de temas como os que Lindstrom assina: «cosmic». O facto de recentemente se ter descoberto o filão de experimentação conduzido por DJs italianos na transição da década de 70 para a de 80 animou muita da produção contemporânea – e pioneiros da cena «cósmica», como Danielle Baldelli, passaram a servir de inspiração a produtores como Lindstrom.
«Agrada-me que o rótulo “cósmico” se possa aplicar a coisas tão diferentes como Nina Hagen ou Steve Reich. Admito que neste último ano fui muito influenciado pelas gravações dos sets dos DJs italianos da era “cósmica”».
O percurso singular de Lindstrom e a sua evolução como produtor encontra-se bem documentado no álbum It’s a Feedelity Affair, que reúne uma série de trabalhos que foram tendo circulação limitada em maxis nos últimos três anos. Como uma banda que abre os seus ensaios ao público, Lindstrom foi permitindo que a comunidade internacional lhe seguisse os passos através da edição desses maxis. Mas a reunião de todos esses temas sublinha a coerência do seu trabalho. E Lindstrom acredita que a pista ideal para tocar a sua música é a da nossa própria cabeça. «Acho que a minha música soa melhor em auscultadores. Mas também acho que se aguenta bem nos sistemas de som dos grandes clubes».
A presença regular de discos de Lindstrom nas preferências de alguns dos mais importantes DJs contemporâneos diz-nos que esta última suposição está correcta. De facto, Lindstrom parece ser um nome desejado por muitos círculos. O norueguês confessa mesmo que já recebeu alguns pedidos para «superstar remixes» mas adianta que está completamente concentrado na sua própria música. Há um nome, porém, a que não resistiria se o convite surgisse: «Abba. Adorava pôr as mãos em qualquer bobine multi-pistas dos Abba». Bem, a Suécia está aí perto… ».
(Rui Miguel Abreu, in Blitz)
Dia 13 de Setembro ao vivo no Lux.
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