
É o soturno After Dark, que propõe uma leitura "noir" das espacialidades européias de Giorgio Moroder e afins e marca o lançamento da editora norte-americana "Italians Do It Better", novo foco de releases "vintage".
Escolheu cinco bandas: o quarteto electro italiano Mirage; o proeminente grupo de underground-pop Glass Candy, de Portland, e sua banda-irmã Chromatics, de Seattle, a mística cantora texana de sangue árabe Farah e Professor Genius, DJ e produtor de Nova Jersey.
Todas as faixas de After Dark são novidades dessas bandas e sem dúvida as faixas que eles melhor produziram. Caso do Glass Candy, que antes era uma versão 2000 do Blondie e agora abre uma compilação em tempos de space disco com "Rolling Down the Hills (Spring Demo)", faixa com toque a vinil, trompetes em sopro primaveril numa canção onde os vocais da loiríssima Ida No são nostálgicos, derretidos.
O "vinyl crack", aliás, compõe bem também "In The City", dos Chromatics. Essas duas bandas, quase irmãs, pegam elementos da sensualidade de Roxy Music e transformam-nos em frustrações sonoras de quem mais do que gosta de curtir uma fossa, a vive de maneira romântica, quase devota.
Em "Hands In The Dark", outra dos Chromatics, surge a essência obscura do disco, música melancólica com pretensa roupagem pop. Há uma certa sensualidade reprimida, um cabaré rasca com lâmpadas piscando, quanto Natalie Portman em Perto Demais, a repetir o vocal melosamente por toda a eternidade.
A levada minimalista do álbum, um "over and over and over" de preguiçosos synths italo-europeus, transformaram o hino boa vida "Last Night A Dj Saved My Life", aqui remixado pelo Mirage numa introspecção animada.
E esbarramos em "I don't care, I don't care" com as ondas robóticas, explicitamente kraftwerkianas de "Lady Operator", também do Mirage.
A Itália é o charme harmónico e imagético desta compilação, mas o conformismo inorgânico alemão vem a calhar. Tanto que o Glass Candy, um "lolitismo" electrónico que nos seus primórdios brincava de rock inofensivo, teve a deliciosa pachorra de regravar "Computer Love" do quarteto germânico.
Momentos mais alegres de Glass Candy (a linda e aguda "Miss Broadway" - a minha preferida confesso!!!) e dos italianos do Mirage (na space-disco detroitiana de "Lake Of Dreams"), fogem da repressão até então insistente no álbum, mas possuem passagens, interlúdios sombrios. E até mesmo Glass Candy, com sua consistência pop, e o seu carisma, acaba por falar de suicídio na disco nipónica e minimal "The Chameleon".
Hora boa para destacar o lado étnico do álbum: a texana Farah, uma misteriosa cantora que explica como as coisas são em "Law Of Life", em refrões lidos numa base espacial: "tortura e destruição, fome no mundo, porque a vida é um mistério"....a soar a mantras turcos ou persas, algo assim, meio esquisito!
Italo-disco e pop depressivo para ouvir no carro a acompanhar um filme mudo, uma menina com uma camisola de gola alta cinzenta, e chuva a cair lá fora.....olha tipo o dia de hoje!
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