Desde todo o sempre, o homem equacionou o futuro de formas mais ou menos fantasiosas, dando origem a inúmeras manifestações artísticas que têm a projecção de um tempo vindouro como a força criadora capaz de libertar a imaginação.
Na música muitas têm sido as tentativas de antecipar o futuro, as mais importantes das quais não se fixam nesse tempo que há-de vir num esforço de exercer o ofício de vidente, mas sim enquanto inspiração estética que enquadra narrativas singulares, viradas para uma certa apologia do progresso tecnológico aportador de bem estar, mas também de uma boa dose de incerteza.
Na música muitas têm sido as tentativas de antecipar o futuro, as mais importantes das quais não se fixam nesse tempo que há-de vir num esforço de exercer o ofício de vidente, mas sim enquanto inspiração estética que enquadra narrativas singulares, viradas para uma certa apologia do progresso tecnológico aportador de bem estar, mas também de uma boa dose de incerteza.
Mesmo que olhando para trás e percebendo que não se realizou quase nada do que a ficção científica se entreteve a conjecturar, a verdade é que esse olhar futurista e, muitas vezes, retro-futurista, que olha para a frente através do espelho retrovisor tem produzido música que quase sempre se coloca na posição de catalizador da simbiose do homem com a máquina, dotando-a de uma precisão sincopada mas esvaziando-a de emoção.
Neste particular, o novo "Tank", dos já históricos Kreidler, consegue distinguir-se de boa parte da criação alemã pois alia à tradicional frieza associada ao kraut, e no meio da inevitável repetição circular, um ambiente interrogativo que cria uma constante tensão interior e fascina pelo leque alargado de caminhos para que aponta.
Gerado por quatro músicos distintos organizados em dois núcleos (Alex Paulick com Andreas Reihse em Berlim e Thomas Klein com Detlef Weinrich em Düsseldorf), "Tank", agora editado pela Bureu B, é o resultado da espontaneidade de um grupo que se juntou por apenas cinco dias em gravações, mais três para as misturas, registando somente uma take de cada tema, tentando assim trazer o espírito imediato de um espectáculo rock'n'roll para uma música que se alimenta ávidamente da electrónica e da rigidez estrutural, sem que para isso abdique de utilizar a guitarra, o baixo, os teclados e a bateria. De uma forma muito peculiar, claro!
Deste modo, os Kreidler produziram um disco, o seu nono longa-duração, que assenta na repetição, usando-a como a teia na qual se tramam, à vez, difusos desenhos de formas dinâmicas e refinadas que, quando olhadas atentamente, se enlaçam cumplicemente num longo tecido envolvente que relata histórias de isolamento e confusão em cenários urbanos nocturnos.
Com um inegável fascínio associado...
(in, Matéria Prima)
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