Kangding Ray é o nome que serve de refúgio ao francês David Letellier quando despe o fato de arquitecto e assume a farpela de músico avant-garde, acolhido na perfeição pela editora Raster-Noton, cada vez mais apostada em ampliar a sua exploração dos cantos menos expostos da produção musical.
A aparente troca de indumentária de Letellier quando abandona o atelier e abre as portas do estúdio não conta a verdade toda, pois a música de Kangding Ray não é isenta de influências dessa actividade de traçar espaços e conceber harmonias funcionais entre ambientes e a respectiva ocupação humana.
Neste sentido, "OR" é já o terceiro edifício a tinta nanquim saído da pena de Letellier.
E parece ter sido inspirado por uma escola minimalista moderna, que usa linhas rectas, betão e vidro para gerar equilíbrios luminosos, ligando e ordenando com alguma imponência os pilares rítmicos em que toda a construção assenta, mesmo se a ornamentação final continua a ser marcada por uma certa austeridade que, no entanto, não belisca o conforto auditivo.
"OR" acaba por ser preenchido com uma música que se integra na perfeição no espaço envolvente, feito de um equilíbrio milimétrico entre os seus elementos e muita liberdade para que o espírito circule sem grandes constrangimentos, destinado assim a que cada um para ali transporte, a seu bel-prazer, a essência do seu próprio calor humano.
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