
O palco vai buscar o seu imaginário aos velhos campos medievais de torturados, numa perspectiva de feira de horrores, mas levando à letra o conceito de feira na sua acepção moderna de supermercado, onde tudo se vende e tudo se compra, com os monstros de Ana Rita, em tamanho natural, espetados por lanças e paus, mulheres grávidas trespassadas, cabeças horrendas dependuradas.
Os 5 músicos estão vestidos com roupa colorida, azuis petróleo, vermelhos sangue, amarelos, roxos, com botifarras também de cor, tudo misturado com preto, e os cabelos hirsutos, recriando uma neo-Idade Média pós-apocalipse como uma tribo urbana sobrevivente do horror, uma horda do século XXI encontrando na cor um apaziguamento para o terror circundante, neo-primitivos com pinturas na cara e crueldade infantil no olhar, saltimbancos saídos das brumas do sonho. Adolfo Luxúria Canibal surge vestido de anjo, não o alvo anjo cristão, mas um anjo de grandes asas descarnadas, sobre um corpo mumificado.
No decorrer do espectáculo e sem sair de cena, vai tirar as asas e desenrolar as ligaduras que o mumificam, coincidindo o final dessa operação com o último poema do conjunto. Toda a acção equivale, assim, a uma espécie de strip-tease, como um espectáculo de cabaret ou de clube X, com a diferença de que a nudez apresentada não é a do corpo, já que por baixo das ligaduras vai surgindo outra roupa.
(Fonte: www.mao-morta.org)
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