
No início da década, com o “retorno” (ah, ah, ah) do rock, era o hip-hop mais enevoado, o "glitch" e os "clicks and cuts" de selos editoriais como o evidente caso da Raster-Noton que se posicionavam como os centros mais vanguardistas da música do novo milénio.
Também MC’s britânicos como Wiley ou Dizzee Rascal apareciam com "debuts" vigorosos, bebendo muito do UK garage, fazendo "rhymes and poetries" peculiares completamente discrepantes com a estética predominante americanizada.
O grime até pode ter passado "aparentemente ao lado" das modas instauradas, no entanto foi o dubstep (essa mistura ainda hoje em estudo laboratorial que mescla o jungle, o 2-step e eventualmente algumas secções mais dub!) que começou a brotar das malhas mais cáusticas do panorama musical mais "avançado".
Nomes como Burial, Kode9, Skream, Martyn, Blackdown, Benny Ill, Sam Shackleton saltaram do profundo desconhecimento e tornaram-se familiares na comunidade da música electrónica!
Ainda bem!
Mas como o descontentamento e a dúvida movem o progresso e nos impelem a partir à aventura de algo novo, também na música (felizmente para nós, que estamos cá para a ouvir!) há necessidade de seguir essa evolução!
Foi por isso que há cerca de 2 anos a esta parte que alguns produtores e músicos se mostraram "descontentes" com o rumo que o dubstep estava a tomar e decidiram incrementar a sua nova sonoridade com batidas mais funky e efeitos "aquáticos", surgindo assim conceitos como o "aqua-crunk", "wonky" e "bassline".
O som ficou mais inventivo que nunca, surgindo à baila nomes como Flying Lotus e Hudson Mohawke, que herdaram toda a sagacidade para colagens e batidas de J Dilla, Stones Throw e de Prefuse 73.
O "namoro" entre o hip-hop e o dubstep promoveu um interessante diálogo criativo, surgindo álbuns extremamente deliciosos e osmóticos como o segundo álbum de Lukid, Foma!
O "namoro" entre o hip-hop e o dubstep promoveu um interessante diálogo criativo, surgindo álbuns extremamente deliciosos e osmóticos como o segundo álbum de Lukid, Foma!
Luke Blair, o nome por trás de Lukid, produtor inglês decidiu meter hip-hop, techno, disco, dubstep e os mais recentes wonky e bassline na mesma panela e a Werk agraciou aquilo que se veio a tornar num ótimo exemplo desta nova vaga de som.
Os motivos percussivos e os sons mais "climáticos" remetem-nos para paisagens familiares a Los Angeles e até mesmo Flying Lotus, sentindo-se no entanto fortes influências dubstep e outras composições mais introspectivas!
The Books, Vladislav Delay e até Boards of Canada podem surgir como "amigos de peito" no seu myspace sem qualquer crítica a apontar.
Foma é um disco atraente, de audição tranquila e serena, onde as faixas deslizam uma sobre a outra sem grandes solavancos, lembrando um pouco uma sensação de viagem experimental, onde o hip-hop instrumental não é o do breakbeat ou da polirritmia dos Prefuse 73 ou Madlib, mas antes o do downtempo de gente como Alias, Blockhead, Dosh ou o Four Tet ou Pause.
Foma é a consequência de um trabalho de cuidadosa escultura sonora mergulhada numa calda repleta de ambiguidades, envolvendo numa manta de retalhos os mais friorentos apreciadores da arte da samplagem ou os eruditos das electrónicas sem desprezar quem ainda vê no hip-hop instrumental o escape para novas e mais pacificas realidades.
Música sem forma com contornos desfocados e vultos misteriosos, aproveitando-se das incertezas para marcar o terreno por onde caminha.
E sim, esta é uma nova era dourada da música electrónica! Disso tenho a certeza!
E ainda bem que a estamos a viver sem ter que recorrer a livros e publicações antigas e discos que só os nossos pais e amigos mais "cotas" conheceram na altura, deixando-nos a roer de inveja por não ter o prazer de sentir...
Esta é a nossa vez de dizer que se está a fazer história na música!
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